"Meu Pelé" parou. Como explicar a natureza de um elemento que entorpece nossos sentidos, que na natureza é momentâneo e se sucede poucas vezes, que é extraordinário, surpreendente, que tem dotes acima dos meros mortais, que é fenomenal. "Meu Pelé parou". Ronaldo, Ronaldinho, o R-9, parou. As dores, as operações, o cansaço e a incompreensão bateram o fenômeno.
Nascido no Rio de Janeiro, em 18 de Setembro de 1976, criado em Bento Ribeiro, bairro pobre, o filho mais novo de "Seu" Nélio e "Dona" Sônia começava a escrever sua história no modesto Social Ramos, quando fez 166 gols no campeonato metropolitano do Rio. Dadado (que era seu apelido na época) havia nascido para o futebol. Tendo em Zico seu maior ídolo, nem imaginava que seria muito maior que ele. A ironia é que fez teste no Flamengo, em uma peneira de mais de 400 garotos, e não passou. Foi jogar no São Cristovão onde Reinaldo Pitta e Alexandre Martins começaram a cuidar de sua carreira. Jogou alguns anos no São Cristovão, foi para a seleção Sub-17 e transferiu-se para o Cruzeiro. Fez sua estréia aos 16 anos como profissional, foi artilheiro do campeonato mineiro com 21 gols, e já chamou a atenção do técnico Parreira que o levou a seleção campeã mundial de 1994, e mesmo como reserva a estrela já começava a brilhar com a amarelinha.
Na Europa teve uma carreira meteórica sendo campeão da Copa da Holanda em 1996 e transferido para o Barcelona, foi campeão da Supercopa da Espanha, da Copa da Espanha e da Recopa Européia. Foi para a Inter de Milão e foi campeão da Copa da Uefa de 1998, e em 2000 aos sete minutos em um jogo contra a Lazio, na final da Copa da Itália, dia 12 de abril, teve sua primeira tragédia muscular quando rompeu o tendão patelar do joelho. Começava o martírio muscular do "Meu Pelé". Lutou e se recuperou e em 2002 fechou sua carreira européia de títulos no galático Real Madrid quando foi campeão Mundial de Clubes, Campeonato Espanhol de 2003 e 2007, e Supercopa da Espanha de 2007. Terminou seu ciclo na Europa no Milan onde não gritou "É campeão" nas temporadas de 2007 e 2008. Jogou só 20 partidas e sofreu a sua segunda grave lesão.
A história do "Meu Pelé" se confunde com lágrimas de dor e superação, junto com a desconfiança, e uma frase pronta de qualquer pessoa, torcedor ou jornalista: "Será que ele volta?". Esta sempre foi a pergunta dos torcedores da seleção brasileira, onde "Meu Pelé" atuou por quatro edições, em 1994 quando foi campeão, franzino na reserva mas tido como o 12º jogador em campo, passou pela tragédia de 1998,onde todo o mundo esperava que fosse sua copa, mas um francesinho chamado Zidane tiraria esta glória do "Meu Pelé"´. Notícias difusas, conturbadas, desencontradas deram conta após o jogo que ele tinha sofrido uma convulsão, mas mesmo com riscos quis jogar. Este mistério nunca será esclarecido, mas o que importa?
Foram quatro anos de dúvidas, pelas contusões graves, de uma torcida inquieta com o ídolo até que em 2002, a três meses da Copa, ele retornou a seleção para vence-la, marcando oito gols, sendo artilheiro e colocando um basta nas dúvidas. Em 2006 nova operação no joelho, sobrepeso e uma Copa que serviria apenas para torna-lo nada mais nada menos que o maior artilheiro de todas as Copas do Mundo com 15 gols. Após isto as contusões foram fatigando "Meu Pelé" e a volta ao Brasil estava mais perto.
Entre 2008 e 2009 começava o último namoro com um clube na sua carreira: O Corinthians. O acerto estava mais perto com o Flamengo seu clube de coração, mas o Timão conseguiu convence-lo com um projeto atraente, e aconteceu: "Meu Pelé" era jogador da maior torcida de São Paulo. Junto com a contratação vieram novamente as dúvidas, e mais uma vez a volta por cima com os títulos do Campeonato Paulista, onde na final fez um golaço contra o Santos, fazendo com que Pelé, o outro, se levantasse e fosse embora da Vila Belmiro, e o título da Copa do Brasil. 2009 se encerrava com contusões sucessivas e 2010 se iniciou assim. O Corinthians estava disputando o título do brasileirão e ele voltou a 9 partidas do fim como uma Fenix, reerguendo a moral do time quase levando-o ao título. Quase. Foi vencido pelas dores. Veio 2011 e a constatação de que as dores o haviam vencido. Sem conseguir melhorar sua forma física "Meu Pelé" foi vencido por seu corpo, como ele mesmo declarou.
A carreira de 475 gols, eleito o melhor jogador do mundo pela Fifa por três vezes, títulos mundiais por uma seleção e por um clube, o maior artilheiro de copas do mundo, acabou. Vencedor por natureza, carismático, amado por todas as torcidas, sem distinção, "Meu Pelé" parou. Explico porque chamo Ronaldo de "Meu Pelé": Nasci em 1963 e não vi Pelé, o outro, jogar, só por vídeos pois a época não tinha a tecnologia que temos agora. Eu vi o "Meu Pelé" jogar desde o começo no Cruzeiro, nunca perdi um lance de sua carreira e se existe um Rei do Futebol, tranquilamente ele é o Príncipe. Ninguem mais chegou tão perto em reconhecimento mundial e carisma, comparado com Pelé como Ronaldo.
Fica um nó na garganta porque os campos não terão mais aquele sorriso moleque, com os dentes expostos, que sempre encantou a todos. Obrigado do fundo do meu coração Ronaldo Luis Nazário de Lima, Ronaldinho, Ronaldo, Fenômeno, "Meu Pelé", por estes vinte anos de futebol que você proporcionou a todos. Que você fique em paz e curta o que vem pela frente da mesma forma que sempre jogou: Com alegria e amor pelo que esta fazendo. Termino com uma frase sua: "Foi lindo demais, todo estes anos foram lindos demais". Valeu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário